segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Carta de um menino de rua que habita em mim.



Hoje é meu aniversário, cresci pouco. Não tenho muito o que comemorar, porque se fosse pra comemorar comemoraria minhas derrotas. Só tenho regredido nessa minha vida, continuo imaturo e visto na sociedade como um Zé Ninguém. Na verdade eu sou uma coisa tão corriqueira, a desigualdade social já se tornou tão normal que as pessoas na rua passam por mim e não me olham com afeto e sim com nojo. Eu nunca pensei que pessoas assim existiam, mas quando passei a descobrir as coisas da vida eu fui ficando assustado. Foi numa dessas descobertas que eu entrei no mundo das drogas. Parei definitivamente de viver. De início eu só ficava na cola de sapato, é estranho, mas quando se está com fome esse é o melhor alimento.
Descobri as drogas como meu refúgio. Ela me tirou da solidão, me alimentava e minha deixava a mil. Eu ficava muito louco, muito louco. E não fui parando, só estava no começo. Passei a usar crack, cocaína, maconha. Tudo o que se possa imaginar. Eu me via como o maioral, me via poderoso. Mas era tudo momentâneo, quando o efeito passava eu me via num beco escuro sem ninguém e com minhas ilusões. Apesar de me ver assim, em um estado horrível, eu não encontrava sentido pra mudar. Mudar pra quê? Eu já havia tentado e quando fui e busquei com esperança as pessoas bateram as portas na minha cara. Muitas pessoas tem nojo de mim, mal sabem elas que eu que tenho nojo. Toda essa hipocrisia, essa falta de amor no coração e essa ignorância me enojam. Nem sei mais se Deus está comigo, tenho sido uma pessoa tão má. Estou sobrevivendo nesse mundo de uma forma tão errada, me julgo todos os dias. Sinto pontinhas de fé no coração, nesses momentos eu tento achar sentido pra viver. Não encontro. Hoje no meu aniversário quero apenas esperar pela morte. Esse seria o meu melhor presente.

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